– Mas o que é que eu tenho, doutor?
– Parece que você está com saudade.
– Saudade? Por isso…
– … os olhos distantes, parados, mareados; a respiração suspirada, o peito fundo, latejante, o coração doído.
– Tem cura? Remédio?
– No presente estágio, não. A dor de uma saudade tem seu ciclo; é necessário respeitá-lo.
– Que ciclo é esse? O ciclo do quase morrer um pouco todos os dias? Me parece que nunca passa, essa dor.
– Passa. Essa dor que sufoca, que tortura, que anestesia os sentidos da vida, essa passa. O tempo é seu melhor remédio, e seu melhor aliado.
– Não posso suportar a espera, doutor. Não posso esperar que o tempo se encarregue de colocar essa dor, que o senhor chama de saudade, num lugar onde não doa mais. Não dá para transferí-la do peito para, sei lá, para a cabeça? Pra cabeça tem remédio que tomou passou…
– Não dá.
– É que dói demais…. Parece ferida aberta, ferida que nunca cicatriza.
– E é uma ferida aberta. Já disse, o tempo é o melhor remédio.
– O tempo só é remédio pra quem não tem outro remédio, né doutor?
– Infelizmente, sim.
– Hum…
– Por que você não vai ao cinema, lê um livro, tenta fazer coisas que…?
Ela acena um não com a cabeça.
– São medidas paliativas, eu sei. Na qualidade de médico eu tenho que dizê-las, na qualidade de gente, eu sei que são pouco eficazes.
– Bom doutor, acho que não temos mais nada que dizer um ao outro. Obrigada pela consulta. E agora só me resta…
– O que? pergunta o médico
E ela responde num tom jocoso, como que quebrando o tom daquela consulta pesada:
– Só me resta “…me embriagar até que a dor me esqueça”.
E riram, os dois. Um riso forçado, um riso nervoso, sabendo ambos que há dores na vida que precisam simplesmente ser sentidas. O riso dela foi para tentar abrandar a dor latente de uma saudade presente. O dele, para afastar a dor quase esquecida de uma saudade já vivida.
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Em tempo, Tomás está bem melhor, quase cem por cento. A mãe dele é que não anda nada bem. Mas isso é assunto para outro post, ou não. Talvez o tempo se encarregue de tudo. E no fim, deixe apenas uma saudade. Apenas saudade de coisas bem vividas.
Obrigada à todas que nos escreveram e torceram pela recuperação do Tom!
Mas saudade é palavra brasileira, ela deveria dar uma trégua para quem está longe! 🙂
Espero que melhore logo!
Beijo
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Gabriela,
Minha amiga…
Posso te dar um abraço? E esse remédio para curar as saudades… ah, também quero! Como tem dia que é difícil…. Mas assim como escreveu, já que não tem remédio que cure, o melhor realmente é se ocupar, pensar que logo, logo matará as saudades ou que talvez é melhor ter esse sentimento, do que jamais tê-lo sentido! Complicado, né?!
Fica bem! Estarei por aqui e não deixe de dar notícias, ok!?
Por acaso, você tem skype? Podíamos trocar o endereço e nos falarmos qualquer dia desses. Que tal?
Beijos, beijos
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Este blog ainda te rende um livro. E quando eu acho que meu coração me fala em uma língua desconhecida, este texto me cai como um dicionário. Beijos
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