Um pouco antes de ser mãe eu já tinha começado a enxergar minha própria mãe de maneira diferente. Não que a nossa relação fosse conflituosa antes, mas eu ainda guardava algumas diferenças e rancorizinhos. Coisas de filha.
Um pouco antes de ser mãe, eu resolvi que já era hora de colocar pontos finais em questões antigas com minha mãe, e seguir uma vida livre de entraves e barreiras. É que no fim dos 20 anos, a gente se cansa de culpar pai, mãe ou quem quer que seja, por nossos problemas ainda não solucionados.
Um pouco antes de ser mãe, eu já havia perdoado, e considere a palavra perdão da maneira como quiser, não necessariamente o perdão cristão, de um bocado de coisa. Um pouco antes de ser mãe, eu acreditei que o ser mãe era tarefa não tão difícil, e que respeitar um outro ser na sua individualidade e nas suas peculiaridades seria natural.
Quando estava prestes a me tornar mãe de fato, passando pelas dores do parto, eu não pensei em nada, não. Meses depois, com meu filho nos braços e tendo que ser mãe, eu humanizei minha mãe. Humanizei porque pensei que ela havia passado pelas mesmas dores que eu, porque talvez ela tivesse passado pelos mesmos problemas e questionamentos que eu passei no meu pós-parto, e a humanizei porque ela, com apenas 19 anos de idade, teve que crescer e ser mãe. A minha mãe.
Isso não significa que eu concorde com tudo que minha mãe fez, da maneira que ela fez. Isso significa que eu, como mãe, percebi que como seres humanos, erramos e acertamos. E como mãe, mesmo querendo acertar, erra-se. Foda isso, viu! E por isso, mesmo não concordando cem por cento com minha mãe (até hoje), eu a considero muito mais hoje do que a dez anos atrás.
Como mãe, eu percebi que mães são criaturas que merecem muito respeito. Respeito, porque elas tentam com todas as forças fazer o seu melhor. Como mãe, eu sei que nem sempre meu melhor é o suficiente; como mãe, agora sei, que mesmo querendo acertar, eu erro feio; como mãe que sou, eu sei que pedir desculpas, não é só reconhecer um erro, é de fato lamentar por ele. Não um lamento vazio ou um lamento autoflagelador, um lamento sincero de quem não queria errar com alguém que me foi confiado e que quero tanto. E é prometer a si mesma, que vai tentar agir melhor. Uma promessa tão sincera, tão verdadeira, que chega a doer.
Eu, já mãe, quis precisar da minha mãe. E gostei disso. Eu, já mãe, precebi, que mães não são criaturas sobrenaturais, são apenas humanas. Que mães são mulheres, e como mulher que me tornei e sou, sei que nem sempre é fácil ser apenas mulher, quem dirá mãe e mulher, tudo junto ao mesmo tempo!
Mães são criaturas fantásticas, não acha?! Elas fazem uma casa funcionar, muitas vezes trabalhando fora, podem não ser excelente cozinheiras, mas sempre têm uma receita reconfortante e familiar, procuram fazer da casa um ninho, e ainda pensam em detalhes que só mães conseguem pensar!
Por exemplo, antes de ser mãe, eu achava que seria fácil manter uma casa bonita como a da minha mãe, sempre com flores, tudo no lugar e cheiro de pão saindo do forno. Ainda que tenha aprendido muito com ela sobre administração do lar, minha casa insiste em ser marrommeno, ter sempre flores velhas ou plantas mortas, bagunça por todos os cantos, e cheiro de pão…queimado. E aí eu me pergunto, quando é, senhor, que eu vou ser um pouquinho parecida com minha mãe?
Mas isso, claro, depois que me tornei mãe. Porque antes de ser mãe, a simples ideia de ser parecida com a minha, em qualquer coisa que fosse, me dava medo. Hoje, engraçado, não só consigo admirá-la, como desejo ser em muitas coisas como ela.
Como mãe e mulher, eu acredito que nem toda mulher precisa passar pela experiência da maternidade para reconstruir essa mãe interna. Esse foi o meu caminho. Agora, como mãe e mulher, eu acredito que toda mulher deveria, ao menos tentar, fazer as pazes com a própria mãe. Ainda que secretamente.
Afinal, presente ou não em nossas vidas, mãe é única, e a carregamos conosco a vida toda. Então, que seja leve o carregar.
lindíssimo!
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Gabriela que lindo! A mais pura verdade, apesar de muitas vezes lidarmos de uma maneira bem difícil. Também tenho meus obstáculos com minha mãe. Nada fácil, mas ultimamente também tenho me esforçado muito para tudo ficar bem e tranqüilo.
Agora, espero do fundo do coração que você esteja bem. Sinta-se abraçada, pois seu texto hoje me deu vontade de te dar um abraço! Um grande beijo.
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Liebe Jana, obrigada! Querida, recebeu minha mensagem? Saudades. Beijo grande
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Celi, querida! Obrigada! Já te disse e repito, que bom ter te conhecido, mesmo que virtualmente. Mas nosso encontro não tarda.
Curta sua mãe, a ajuda da sua mãe e deixe o que é difícil para bem mais tarde. Agora se concentre só no que importa.
Beijo grande.
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lindo texto…mostra realmente as delicias e as dificuldades da maternidade…
bj
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Há muitos anos venho pensando sobre a estória da minha mãe. Eu não conseguiria ser como ela. Foi e é uma mulher forte. Errou? Muito. Acertou? Muito também. E vejo que mães são demasiadamente humanas.
Este texto é muito lindo! Obrigada por compartilhar seus sentimentos com a gente!
Um beijo, querida!
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Incrível como pessoas diferentes podem ter sentimentos parecidos. Fiquei emocionada com o teu texto, e passei e passo por isso. depois de ter filho humanizei a minha mãe e entendi muitos dos porquês da vida.
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Oi Ana! Que bom que gostou do texto! Beijo
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Com o tempo a gente aprende a ter menos expectativas em relação aos outros, seja esse outro muito próximo ou não. E com o tempo a gente também aprende a ceitar mais o outro como ele é, né?
Fico feliz que você tenha gostado do texto. É sempre um parzer compartilhar e receber de pessoascomo você, um retorno tão positivo!Beijo
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Oi Carol! Que bom saber que eu não sou/não fui a única a passar por esse processo!Beijo grande
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Vi seu texto lá na MMQD e gostei muito do jeito que vc escrever. Espero que não se importe de eu estar sempre passando por aqui. Bjs
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Oi Josi! Não me incomodo de jeito nenhum! Será sempre bem-vinda, flor!
Beijo
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Que lindo texto!! Adorei a comparação da casa da mãe com a nossa casa, a minha tb nunca fica igual, tão cheirosa, arrumada, cheia de flores… Lindo texto!
bjos
Sarah
http://maedobento.blogspot.com.br/
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Obrigada, Sarah! E não é que casa da mãe é imbatível mesmo? Espero que, um dia, a minha também seja referência para o Tom 🙂
A gente chega lá!
Beijos
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Ótimo texto! Me fez refletir muito! Minha mãe também me teve aos 19 anos e meu irmão aos 18. Penso a mesma coisa, que deve ter sido bem mais difícil assim tão nova e tendo que crescer assim tão rápido.
Beijo
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