Aos fatos
As parteiras alemãs correm o risco de se extinguirem (eu sei, parece forte, e é mesmo) apenas e tão somente porque os custos do seguro estão explodindo!
Explico:
Geralmente, as Hebammen (doulas/parteiras alemãs) são autônomas. Mas mesmo trabalhando em clínicas ou hospitais, as parteiras alemãs são seguradas por danos contra terceiros (Haftpflichtversicherung) pela instituição e/ou chefes para os quais trabalham. Ainda assim, elas são aconselhadas a pagarem, por conta própria, um seguro adicional, uma vez que indenizações por ordem de danos causados durante ou após o parto, podem ser gigantescas.
Por conta disso, uma única seguradora na Alemanha oferece seguros para as Hebammen. E ela está aumentando enormemente o valor do seguro. A previsão, caso os preços sigam exorbitantes como estão, é de que as parteiras deixem de exercer a profissão! E sabe por quê? Porque se tornaria inviável trabalhar correndo o risco de ser processada (e tendo que arcar com eventuais indenizações), e mais inviável ainda cobrar um honorário que cobrisse os gastos com o seguro.
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imagem: Martin Schutt/lth/dpa
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Tá e daí? E daí que o fim das parteiras significaria que as mulheres aqui na Alemanha não teriam mais a opção de escolher como e onde teriam seus filhos, uma vez que a escolha por partos domiciliares ou em casas de parto deixaria de existir. Assim como o apoio dado pelas parteiras às mães no pós-parto também acabaria.
Tá e daí de novo? Eu nem moro na Alemanha…
E daí que hoje, 8 de Março, é o Dia Internacional da Mulher. E no dia Internacional da Mulher nós não somente celebramos tudo o que nossas antecessoras na luta por nossos direitos fizeram, como também nos lembramos que há muito por fazer, e que as mulheres ainda precisam lutar por seus direitos.
E embora muitas não saibam, parir é um direito da mulher. Ah, sua radical, querendo empurrar goela abaixo o parto humanizado! Toda mulher que quer, que deseja que luta por parir, tem sim o direito a fazê-lo. E fazê-lo com apoio, com respeito, com quem ela escolher e onde ela escolher.
Eu pari meu filho com a equipe que escolhi, no lugar que escolhi. Eu pari meu filho com a equipe mais amorosa que podia existir. Eu tive apoio, eu tive carinho, eu tive respeito. E Tomás nasceu no seu tempo, e foi acolhido da maneira mais humana e respeitosa que existe.
E eu desejo, de coração, que todas as mulheres que desejam trazer seus filhos ao mundo de maneira respeitosa tenham condições para isso. E bem sabemos que é, não só, mas também e em grande parte, através das doulas/parteiras que muitas de nós conseguimos realizar o desejo de parir.
Hoje, Dia Internacional da Mulher, muitas mulheres marcharam em várias cidades da Alemanha, tentando sensibilizar Estado e População para toda essa situação.
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Salvem nossas Parteiras |
Se você mora na Alemanha, por favor, assine as petições, entre nos grupos sociais de apoio às Hebammen, passe pra frente tudo o que ler a respeito. Aqui, aqui e aqui (links em alemão) você fica sabendo um pouco mais.
No Brasil, felizmente, vivemos momentos de Renascimento do Parto. Mas a luta pelo nascimento respeitoso não deve ser só no Brasil, deve ser uma luta de todos, no mundo todo. E todas nós que lutamos pela causa – seja no batalhão de frente, seja nos bastidores – nós sabemos quantos espinhos já encontramos pela frente, quantos sapos engolimos pelo caminho. E mesmo assim, muitas de nós, ainda amargam o gosto terrível da incompreensão, da descrença nelas mesmas, amargam o medo e a frustração.
E convenhamos, PARTO e PARTEIRA combinam tanto quanto macarrão com queijo, sorvete com casquinha, namoro com beijo e bebê no peito! Não deixemos o parto morrer, não deixemos o parto acabar, não importa se é aqui ou acolá. Não deixemos muitos menos as parteiras acabarem.
Pois como as Hebammen aqui andam gritando aos quatro cantos: o mundo precisa de parteiras. agora mais do que nunca!
Mais do que nunca, que fique bem claro!